domingo, 14 de junho de 2009

discussão... pag. 83-84

O nível de descontaminação alcançado na porção apical ter sido maior que na porção média é mais difícil de se explicar. Pode se sugerir que a superfície dentinária desta porção seja mais facilmente descontaminada, uma vez que a dentina nesta porção apresenta-se normalmente mais esclerótica e com uma topografia menos acentuada que a da porção média.

Dalton e colaboradores (1998), Siqueira Jr e colaboradores (1999) e Shuping e colaboradores (2000), em estudos comparativos entre técnicas rotatórias e manuais, sob irrigação de solução salina, relataram redução da contaminação da infecção dos canais radiculares na ordem de 98% a 99%. Os nossos resultados não podem ser diretamente comparados devido às diferenças metodológicas. Enquanto, aqueles autores avaliaram a descontaminação por meio de cultivo de microrganismos, nós avaliamos por meio de exame imunoistoquímico.

A nossa abordagem imunoistoquímica apresentou a vantagem de se poder determinar o nível de descontaminação de cada porção individual do canal radicular. Acreditamos também que esta técnica seja mais sensível que as técnicas de cultivo, porém estudos comparativos precisam ser ainda realizados para confirmar esta hipótese.

Os dentes neste estudo não foram fixados em formalina antes dos experimentos, para não afetar os resultados. Segundo Meltzer & Montgomery (1989), estudos ainda precisam ser realizados para determinar se polpas fixadas são dissolvidas por NaOCl, mais ou menos rapidamente, que tecidos que não tenham sido fixados.

Em nosso estudo, isso poderia ser mais relevante, uma vez que a técnica hidrodinâmica não utiliza instrumentação intracanal, e portanto, depende muito da capacidade solvente das soluções irrigantes.

A técnica hidrodinâmica permite a limpeza simultânea de todos os canais radiculares. Assim, o tempo dispensado para sua realização não é aumentado pelo aumento de número de canais radiculares do dente tratado.

A técnica desenvolvida oferece uma perspectiva para uma futura nova abordagem para o tratamento endodôntico. Mais estudos devem ser realizados no intuito de se avaliar outros aspectos envolvidos no tratamento endodôntico.

discussão... pag. 84-85

Quanto à obturação do SCR, a técnica de obturação à vácuo desenvolvida neste estudo possibilitou a obturação do SCR quando avaliada pelo nível de infiltração do corante azul de metileno.

A obturação dos canais radiculares, após sua limpeza, é importante para o sucesso da terapia endodôntica. A obturação deve ser tridimensional e o material obturador deve estar em íntimo contato com a parede dentinária para se obter um selamento apical.

Segundo Nguyen (1997), o sucesso da obturação do canal depende da excelência da configuração da cavidade endodôntica e da limpeza e modelagem do mesmo. Ainda, um canal bem obturado deve impedir a percolação e microinfiltração de exsudato periapical para o interior do espaço do canal, impedir a reinfecçaõ e criar um ambiente biológico favorável para que se processe a cicatrização dos tecidos.

As técnicas de obturação mais largamente utilizadas incluem técnicas de condensação lateral e condensação vertical de cone de guta percha. O uso de guta percha termoplastificada também tem sido recomendada. O preparo do canal com forma cônica progressiva e com menor diâmetro apical, que por sua vez deve ser mantido tão pequeno quanto prático, facilita a obturação hermética (Schilder, 197; West, Roane & Goerig, 1997).

A técnica de obturação à vácuo não depende de uma modelagem prévia do canal. O canal deve ser limpo, isto é, esvaziado de seu conteúdo, e em seguida ser preenchido com um material que apresente fluidez suficiente para alcançar este objetivo.

Os materiais para obturação dos canais radiculares podem ser divididos em pastas e semi-sólidos, geralmente utilizados em conjunto com cimentos endodônticos. A guta percha em forma de cone é o material mais amplamente utilizado. O material obturador, segundo Grossman, deveria (1) ser capaz de selar o canal, (2) ter estabilidade dimensional, (3) ser capaz de selar o canal, (4) não irritar os tecidos periapicais, (5) ser impermeável à umidade e não-poroso, (6) insolúvel aos líquidos teciduais, (7) ser bacteriostático, (8) ser radiopaco, (9) não alterar a cor do dente, (10) ser esterilizado, e (11) ser facilmente removido do canal, se for necessário (Grossman, 1954; Nguyen, 1997).

discussão... pag. 86-88

Durante a padronização do aparelho, cimento de óxido de zinco eugenol, comumente utilizado durante a cimentação de cones de guta-percha, foi utilizado para preenchimento do canal radicular e verificado radiograficamente. Os resultados alcançados foram animadores por ter se verificado o total preenchimento do canal.

O uso de guta percha termoplastificada com auxílio do sistema Obtura não se mostrou viável, porque a guta percha endurecia antes mesmo de atingir o interior do dente, sendo assim abandonada, incialmente, como opção. Porém, estudos posteriores poderão solucionar este problema e permiter uma obturação com este material.

A pasta Lysanda tem sido estudada por alguns autores como um potencial material de obturação de canais radiculares. Os resultados, quanto à sua habilidade de obturar, avaliada pela infiltração de corante azul de metileno, indicaram que o material é capaz de impedir esta infiltração de maneira similar à guta percha em conjunto com cimento endodôntico. Este material compatibilidade biológica. Mais estudos deveriam ser realizados para verificar a possibilidade de seu uso na prática clínica endodôntica (Horta et al., 1992; Horta et al., 1992; Custódio et al., 1996; Dutra et al., 1997).

Neste etudo optamos por utilizar pasta Lysanda porque ela se prestou, quanto à fluidez, em preencher e obturar os canais radiculares de dentes não modelados.

A utilização de pasta Lysanda se mostrou de fácil aplicação. A pasta, após manipulada, antes de perder a pegajosidade e fluidez, é inserida em uma seringa descartável e com auxílio do êmbolo levada até a extremidade da seringa. O ar é todo removido e a seringa ligada ao conector. O vácuo estabelecido remove todo o ar do SCR, deixando-o com pressão interna reduzida, e a pasta, ao ser liberada e condensada, ocupa o espaço vazio obturando-o.

a infiltração marginal apical pode ser medida por meio de diversas metodologias. Pode-se pesquisar a penetração de bactérias vivas, radioisótopos, sais e corantes. Dentre os corantes, solução de azul de metileno foi escolhido porque apresenta uma molécula de tamanho pequeno o que facilita sua penetração. Por outro lado, o corante com pH neutro foi escolhido porque em pH ácido o mesmo pode infiltrar exageradamente e se perder a sensibilidade do ensaio. O período de sete dias foi utilizado por representar um tempo suficiente para a penetração do corante (Fróes, 1997; Camargo & Sinhoreti, 2001).

Silva, Tanomaru & Tanomaru Filho (2001) relataram que o azul de metileno a 2% e o método de fratura longitudinal foram respectivamente o corante e a metodologia que melhor permitiram avaliar a capacidade de selamento apical.

Os controles cobertos com esmalte de unha não apresntaram penetração de corante, indicando que este material impede a penetração (Torabinejad, Kahn & Bankes, 1984).

O controle negativo foi realizado com objetivo de testar a eficiência de cobertura da superfície radicular no impedimento à penetração do corante através das paredes da raiz. O cemento intacto da superfície radicular fornece uma barreira completa ao corante azul de metileno, mas na presença de pequena fraturas ou ausência de cemento, pode haver penetração se a superfície radicular não for coberta (Splandling & Senia, 1982).

discussão... pag. 88-89

Os dentes multirradiculados obturados pela técnica à vácuo foram avaliados para infiltração de azul de metileno após diafanização. Esta técnica foi escolhida para estes dentes, devido à dificuldade de se obter o seccionamento longitudinal de suas raízes. Assim, a diafanização se mostrou uma técnica de mais fácil realização. Uma vantagem é que pudemos verificar a capacidade que teve o material obturador (pasta zinco-enólica) de preencher todo o SCR, inclusive ramificações as mais diversas tais como canais reticulados e deltas apicais.

A complexa anatomia do SCR dos dentes multirradiculares ficou evidenciada, bem como a capacidade da técnica à vácuo e pasta Lysanda em obturar mesmo dentes com curvaturas extremas.

Portmann & Lussi (1994) relataram que, com uma técnica de obturação à vácuo e utilizando AH26 como material obturador, foram capazes de obter uma obturação mais hermética que através de técnicas instrumentais (condensação lateral de cone de guta percha padronizado e cimento AH26), quando avaliados pela infiltração de corante (tinta nanquim). A inserção de um cone de guta percha dentro do canal preenchido pelo cimento foi recomendada, pelos autores, para formar um canal dentro do material obturador para uma posterior entrada no canal se necessário (Lussi et al., 1995; Lussi et al., 1997; Lussi et al., 2000).

Segundo Lussi e colaboradores (1997), a aplicação de vácuo (pressão reduzida) no interior do canal radicular em pacientes não provocou sensação de desconforto. Lussi (2000) relatou que a realização de obturação à vácuo em mais de 300 casos clínicos resultou em sucesso e sem efeitos indesejávies.

Lussi, Imwinkelried & Stich (1999) demosntraram, in vitro, que a técnica de obturação à vácuo (non-instrumentation technique - NIT) poderia ser utilizada com diversos cimentos de canais radiculares comumente usados clinicamente, entre eles AH26, AH PLUS, Pulp Canal Sealer e Apexit (comunicação pessoal - prof. Adrian Lussi).

Nossos resultados são difíceis de comparar diretamente com os da equipe do prof. Adrian Lussi devido às diferenças entre os materiais empregados. Sem perder de vista estas limitações, nossos resultados foram similares aos relatados por estes autores.

O desenvolvimento ou seleção, dentre o arsenal já existente, de um material obturador que preencha todos os requisitos de um material obturador idela e que possa ser aplicado por esta técnica nos parece um caminho possível, que exige, no entanto, estudos posteriores.

discussão...

Aparelhos e técnicas que permitam a realização de tratamento endodôntico sem a necessidade de modelagem dos canais radiculares têm sido desenvolvidos. Lussi, Nussbächer & Grosrey (1993) desenvolveram uma técnica de limpeza de canais radiculares não instrumental (NIT) e demonstraram que é possível obter uma limpeza similar àquela obtida por instrumentação convencional (Lussi, Nussbächer & Grosrey, 1993; Lussi, nussbacher & Grosrey, 1994). A remoção de tecido pulpar pela técnica não instrumental foi possível inclusive em canais curvos (Lussi et al., 1995). Os autores ressaltaram a diminuição do tempo necessário para o tratamento e o fato de dentes multirradiculares não representarem dificuldade extra (Lussi et al., 1997). Uma variação do aparelho foi apresentada, tornando a técnica ainda mais eficiente, rápida e prática (Lussi et al., 1999; Lussi, 2000).

A redução no tempo de tratamento e no estresse do operador, segundo os autores, é a principal vantagem da nova técnica, batizada de Non-Instrumentation Technique (NIT), em relação às técnicas instrumentais. Demonstrou-se uma redução de até 3,2 vezes no tempo necessário à execução de limpeza e obturação dos canais radiculares. Outras vantagens, aventadas pelos autores, incluem a preparação do canal sem dependência de critérios anatômicos ou das propriedades dos instrumentos, tais como resistência à fratura ou flexibilidade, e a facilidade técnica, não exigindo destreza por parte do operador. Além disso, as raízes não são enfraquecidas pela remoção de tecidos dentários. Dentes multirradiculares e/ou com canais curvos não representem dificuldades adicionais à técnica, sendo tratadas da mesma forma que dentes unirradiculares retos (Lussi, Nussbächer & Grosrey, 1993; Luss, Nussbächer & Grosrey, 1994; Portman & Lussi, 1994; Lussi et al., 1995; Lussi et al., 1997; Lussi, Suter & Grosrey, 1997; Lussi et al., 1999; Lussi, Imwinkelried & Stich, 1999; Lussi, 2000; Lussi et al., 2000).

A necessidade de se obter vedamento hermético do sistema ligado ao dente é ressaltada como uma característica das técnicas baseadas em princípios hidrodinâmicos. O estabelecimento de diferentes pressões só é possível quando o sistema está totalmente fechado. Os autores realizam esse vedamento com o uso de elastômeros de impressão. No nosso modelo, a peça de conexão à câmara pulpar é adaptada à câmara pulpar utilizando-se resina. O sistema fica totalmente selado para o interior do SCR (Lussi, Nussbächer & Grosrey, 1993; Lussi, Nussbächer & Grosrey, 1994; Portman & Lussi, 1994; Lussi et al., 1995; Lussi et al, 1997; Lussi, Suter & Grosrey, 1997; Lussi et al., 1999; Lussi, Imwinkelried & Stich, 1999; Lussi, 2000; Lussi et al., 2000).

Em nosso estudo, a pressão no interior do sistema foi reduzida até 0,3 atm (228mmHg) durante a aspiração. A pressão gerada no interior do SCR alterna entre a pressão atmosférica e a pressões reduzidas (vácuo). Lussi (2000) relatou que a pressão reduzida alcançada em seus estudos (15hPa = 15mbar = 11,4mmHg) não causou desconforto ou dor aos pacientes, quando foi testada para obturação do canal radicular. Seus resultados in vitro já haviam demonstrado ausência de extravasamento da solução irrigadora (Lussi, Nussbächer & Grosrey, 1993; Lussi, Suter & Grosrey, 1997; Lussi, 2000).

discussão...

Baseado nos princípios e modelos supracitados, foi desenvolvido o aparelho utilizado neste estudo.

O sistema de irrigação utilizado no aparelho deste estudo é aberto, não permitindo que a pressão ultrapasse a pressão atmosférica. Se isso ocorresse, um acidente bem conhecido pela endodontia, a extrusão apical de NaOCl poderia ocorrer. Contudo, devido às características do aparelho desenvolvido neste estudo, esta situação é impossível de ocorrer. Diferentemente do sistema apresentado por Lussi, que funciona por pistonamento da solução irrigante, o sistema desenvolvido em nosso estudo funciona em todos os momentos por meio da geração de vácuo. dito de outra forma, o líquido nunca é empurrado, mas sempre puxado.

A solução irrigadora passa de um lado ao outro, e durante o deslocamento age no interior do espaço pulpar. À medida que entra em contato com o contéudo pulpar, o NaOCl, age quimicamente dissolvendo-o. Concomitantemente, devido às mudanças de pressão, ocorre o fenômeno de formação de bolhas e implosão das mesma gerando força mecânica dentro do líquido irrigante. E, devido, ainda, ao deslocamento do líquido, uma limpeza mecânica pelo fluxo da solução pode ocorrer.

A limpeza do canal radicular foi alcançada pelo sistema desenvolvido, sem a necessidade de modelação do mesmo nem utilização de instrumentação intracanal. A diafanização de dentes multirradiculados permitiu verificar que o sistema de obturação foi capaz de preencher o SCR completamente. Mais pesquisas devem contudo serem realizadas para se aprimorar o sistema de obturação, especialmente no que se refere ao tipo de material obturador.

Estas perspectivas tornam promissor o futuro da técnica hidrodinâmica e da técnica de obturação à vácuo dos sistemas de canais radiculares.

Conclusões

1. Foi possível limpar os sistemas de canais radiculares, in vitro, por meio da técnica hidrodinâmica sem a utilização de instrumentação intracanal;

2. Os níveis de limpeza de canais radiculares alcançados pela técnica hidrodinâmica in vitro e ex vivo foram similares aos alcançados pelas técnicas convencionais;

3. Foi possível descontaminar os sistemas de canais radiculares, in vitro, por meio da técnica hidrodinâmica sem a utilização de instrumentação intracanal;

4. Foi possível preencher totalmente os sistemas de canais radiculares, in vitro, por meio da técnica de obturação à vácuo, utilizando pasta Lysanda como material obturador;

5. As técnicas desenvolvidas foram capazes de aplicar os princípios hidrodinâmicos para limpeza e obturação de canais radiculares.

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